«Um pormenor apodera-se de toda a minha leitura; é uma mutação viva do meu interesse, uma fulguração. Através de qualquer coisa que a marca, a foto deixa de ser uma qualquer. Essa qualquer coisa fez tilt, provocou em mim um pequeno estremecimento, um satori, a passagem de um vazio (pouco importa que o referente seja irrisório). Coisa estranha: o gesto virtuoso que se apropria das fotos «sérias» (investidas de um simples studium) é um gesto preguiçoso (folhear, olhar rápida e distraidamente, demorar-se e apressar-se). Pelo contrário, a leitura do punctum (da foto «ponteada», se assim podemos dizer) é simultaneamente curta e activa, tensa como uma fera.»
in CÂMARA CLARA, Roland Barthes